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Publicidade: a literatura como ferramenta de escrita

Descubra como o contato com a literatura pode contribuir para a rotina de criação na esfera da publicidade.

  • 10 min de leitura
  • 4 julho, 2024
Conteúdo

Bloqueio criativo, demandas grandes de projetos, curto prazo de entrega. No cenário da publicidade, trabalhar com criatividade e escrita pode parecer um bicho de sete cabeças. Porém, a prática de leitura se mostra uma ferramenta facilitadora para a criação de redação da área.

Pouco mais de 50% da população brasileira, segundo a Pesquisa Retratos de Leitura, de 2019, é considerada leitora. Ou seja, essa parcela leu, ao menos, partes de um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Esse resultado é ruim quando se pensa no impacto que a vivência literária pode causar no desenvolvimento e desempenho humano.

O contato com escritos traz inúmeras vantagens para o leitor. Estimulando diferentes habilidades cognitivas, essa atividade, diferentemente de outros exercícios mentais, é prazerosa e envolvente. De ficção a textos científicos, o hábito de ler traz ganhos significativos, especialmente, para profissionais do ramo criativo.

Quais vantagens você vai encontrar neste artigo?

  1. Estímulo da concentração e memória
  2. Aumento da capacidade interpretativa
  3. Fonte de repertório lexical
  4. Propulsor da criatividade
  5. Ferramenta de saúde mental

Continue lendo e conheça a fundo essas vantagens de manter o hábito de ler em dia como um profissional criativo. Aproveite!

Descubra 5 benefícios da leitura para você

1. Estímulo da concentração e memória

Para ler, é preciso concentração e foco. Esses atributos, na criação publicitária, são essenciais. Diferentemente dos textos efêmeros do cotidiano, livros demandam mais esforços do leitor. Prendendo, pela narrativa ficcional, a concentração com mais facilidade. Afinal, é preciso lembrar de personagens, cenários e acontecimentos ao longo de toda a narrativa.

Especialmente quando se pensa em escritos clássicos e canônicos, essa capacidade de foco é ainda mais trabalhada. Mário de Andrade ou João Guimarães Rosa, por exemplo, têm um hábito peculiar e hermético de escrita, exigindo máxima atenção do leitor.

Da mesma forma, poemas e sonetos têm uma estrutura que destoa dos conteúdos mais veiculados nas mídias (notícias ou legendas de redes sociais). Por essa razão, também exigem concentração e foco, para que a interpretação seja possível.

Na publicidade, a vantagem se dá pelo aumento da capacidade de criar conexões com ideias já vistas. Tudo isso trabalhando para potencializar as habilidades do profissional criativo e contribuindo indiretamente com sua carreira na área.

2. Aumento da capacidade interpretativa

“Leitura profunda significa que fazemos analogias e inferências, o que nos permite sermos humanos verdadeiramente críticos, analíticos e empáticos”. Essa fala da especialista em neurobiologia, Maryanne Wolf, descreve alguns dos processos de desenvolvimento proporcionados pelo ato de ler.

Somando à capacidade de foco – citada no tópico anterior – também a habilidade interpretativa é fomentada. Na literatura, a conotação é a figura de linguagem predominante, uma vez que as palavras têm caráter subjetivo. Nesse contexto, compreender a mensagem é mais difícil.

Por isso, treinar a capacidade de fazer apreensões, por meio da leitura profunda de textos complexos, torna mais simples interpretar outros gêneros. A publicidade, por exemplo, utiliza uma linguagem mais clara e literal. Assim, torna-se mais fácil julgar referências criativas e usá-las como base para a criação autoral.

Saindo do viés linguístico, também o senso crítico e capacidade analítica são aprimorados. Ler obras de outros autores permite avaliar personagens, condutas e, inclusive, o próprio enredo. É uma consequência natural analisar por qual motivo o escritor conduziu a história para determinado momento ou acontecimento.

Tudo isso promove um arcabouço rico e facilitador para o profissional de publicidade, especialmente, o redator. Visto que, quanto mais analítico e crítico linguisticamente e criativamente, mais capaz de realizar analogias e inferências ele se torna.

3. Fonte de repertório lexical

Para escrever, é necessário um amplo repertório de palavras. Afinal, sinônimos são os melhores amigos dos escritores de todas as áreas. Pensando nisso, uma forma prazerosa e vantajosa de adquirir um grande acervo é a leitura.

Para contar uma história, o autor utiliza inúmeros verbetes. Especialmente, quando se pensa em livros. Um dos maiores clássicos da Língua Portuguesa, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, na versão da editora Antofágica, tem 480 páginas. O que significa uma infinidade de palavras que se convertem em opções para os redatores.

Em contato com inteligentes autores, também é possível aprender novas formas de organizar as sentenças. Tudo isso pode, inclusive, gerar insights diferenciados para ideias de publicidade. Além de, claro, auxiliar na organização dos pensamentos e na clareza comunicativa.

Isso concede uma capacidade única de escrever da melhor forma. Escrever, revisar e aprimorar se torna rotineiro, uma vez que realizam essa prática de maneira automática. Assim como questionam os autores literários, colocam em cheque a clareza dos próprios enunciados criados para a publicidade.

4. Propulsor da criatividade

Segundo uma pesquisa de 2016, da Universidade de Emory, a leitura pode, de fato, causar alterações naturais no cérebro humano. Viver diferentes histórias, conhecer personagens variados: tudo isso estimula amplamente a imaginação. Das características físicas de um personagem ao cenário, a criação mental de cada mínimo detalhe é parte fundamental da experiência.

Nesse processo, a capacidade criativa do profissional de publicidade é exercitada. No caso dos mais envolvidos, até a continuação da história ou outros detalhes não trabalhados pelo autor podem ser fantasiados. Isso gera consequências ótimas para aqueles que necessitam criar conceitos, campanhas, frases e materiais todos os dias.

Outro recurso interessante que a literatura proporciona é o contato com diferentes culturas e realidades. Nela, é possível conhecer outras maneiras de pensar e entender o mundo, abrindo espaço para novas ideias e questionamentos.

Ela também pode servir como uma ferramenta para o ócio criativo: um intervalo de lazer e diversão. Afinal, ao mesmo tempo em que muitas habilidades são trabalhadas inconscientemente, mergulhar em outro universo é prazeroso. Isto contribui para aliviar a pressão da rotina de criação de publicidade, cheia de prazos e demandas.

5. Ferramenta de saúde mental

Segundo a biblioterapeuta Ella Berthoud, ao ler, “Seu cérebro entra em um estado meditativo, um processo físico que retarda o batimento cardíaco, acalma e reduz a ansiedade”. Indo ao encontro da ideia de ócio criativo, a literatura também se apresenta como uma ferramenta positiva para a saúde mental.

A pressão, a urgência e o funcionamento acelerado do mercado de publicidade geram consequências ruins. Os profissionais sentem-se constantemente sobrecarregados e estressados. Além de que muitos têm rotinas de estudo e trabalho simultâneas, contribuindo para que a saúde mental coletiva seja preocupante.

O hábito de ler, portanto, auxilia em mais um tópico. Cuidar da saúde mental é imprescindível para todas as outras habilidades – concentração, criatividade e criação. Um profissional que não está bem mentalmente não consegue ter ideias diferenciadas para campanhas e materiais.

Por isso, é importante lembrar que também as empresas (agências) podem incentivar essa prática entre os colaboradores. Pois a leitura pode melhorar índices, reduzindo, inclusive, o estado de ansiedade e aumentando a satisfação no trabalho.

6. Bônus: internalização da Gramática Normativa

Aqui vai um bônus: o contato frequente com livros aprimora conhecimentos gramaticais. Apesar de não ser intencional, memorizar, pouco a pouco, como os autores utilizam o sistema linguístico faz diferença. Notar onde inserem a pontuação, como usam determinadas classes morfológicas.

Uma criança, por exemplo, que cresceu lendo sabe “intuitivamente” como pontuar um texto. Obviamente, não será de maneira perfeita. Mas, ao ver repetidamente determinados usos, ela percebe o padrão e o apreende.

A Gramática Normativa é repleta de regras não científicas, não sendo ditada necessariamente pela lógica. Por isso, certamente, essa habilidade é um facilitador, tanto para a clareza comunicativa, quanto para os estudos da língua de quem a usa todos os dias.

Convencido de que a literatura é uma ferramenta facilitadora?

Com base em todas essas afirmações, percebe-se que o hábito de ler traz inúmeras vantagens. Esses benefícios se aplicam a profissionais de publicidade, que trabalham diariamente com criatividade, mas também a qualquer pessoa. No entanto, são especialmente facilitadores para aqueles que têm necessidade ou hábito de escrita.

Agora, fica o questionamento de como fazer para desenvolver todos esses saberes durante a leitura. O primeiro passo, nitidamente, é adquirir o hábito. Para isso, recomenda-se que:

  1. Reserve um tempo específico para essa atividade;
  2. Leia o gênero que mais o interessa;
  3. Tenha um livro sempre por perto.
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Confira agora 3 dicas de como adquirir essas habilidades:

1. Eleve o nível de suas leituras

Para aumentar o vocabulário, é importante ler não apenas histórias contemporâneas, mas também grandes obras da literatura. Nesse processo de aquisição, todo tipo agrega, mas escritos renomados tendem a ter vocábulos mais peculiares.

Pensando em norma-padrão, é importante serem livros revisados. Para não se perder características originais, alguns cânones não são corrigidos, como as obras da autora Carolina Maria de Jesus. Portanto, para não “registrar” mentalmente de maneira errônea, é interessante que a maioria dos textos seja ortograficamente revisada.

Esse tipo – mais distante da realidade do leitor – também trabalha de maneira mais profunda a concentração e foco. Afinal, é muito mais complexo entender histórias de outros contextos e épocas.

Os célebres escritores não se tornaram autores clássicos à toa. Foram disruptivos, ousados e singulares. Por essa razão, destacaram-se dos demais. Sendo assim, é muito enriquecedor aprimorar a escrita – inclusive, de publicidade – com aqueles que mais a dominam.

2. Tente ver além do enredo

O enredo de uma história é o que nos prende na narrativa. Mas, a fim de aprimorar os dotes, é importante que a postura leitora vá além da trama. Nesse aspecto, ler atentamente e profundamente é muito importante, percebendo como a história foi construída, quais palavras foram utilizadas.

Também é significativo notar como as sentenças são construídas, ter atenção aos usos da pontuação, às acentuações. A fim de treinar a concentração, aprimorar os conhecimentos gramaticais, aumentar o vocabulário e potencializar a clareza comunicativa.

Além disso, é interessante perceber como esses recursos facilitam a interpretação da mensagem. Tudo para que, na hora da escrita publicitária, todas essas conclusões sejam mobilizadas e aplicadas. Afinal, quanto mais concisos e certeiros, mais potentes na esfera da publicidade esses textos serão.

Nesse sentido, ver além do enredo e ler autores singulares é essencial. Porque, por meio da percepção acerca das construções linguísticas, é possível enriquecer o arcabouço de ideias e o imaginário humano.

3. Aventure-se nos temas

De início, é muito comum ter receio de ousar com diferentes temas e gêneros literários. Entretanto, por meio do contato com diferentes autores, conteúdos e assuntos é possível firmar preferências. Ficando mais clara a opção favorita e particular de leitura.

Essa experimentação de diferentes contextos e culturas fomenta a criatividade. Imaginar cenários distantes da própria realidade, vagar por diferentes gêneros. Pois tudo isso tira o leitor da zona de conforto, gerando insights criativos para o profissional.

Elevando a dificuldade dos textos, explorando terrenos divergentes e lendo com atenção ímpar, a experiência é muito formadora. Contribuindo para alcançar todos os benefícios citados ao longo deste artigo.

Porém, acima de todas essas coisas, é importante não perder de vista o prazer de ler. Não deixando ela se tornar mais uma atividade trabalhosa e estressante. Afinal, a saúde mental é a condição para que o restante seja desenvolvido.

Pronto para facilitar a sua escrita na publicidade?

Então, leia frequentemente. Especialmente, aqueles revisados e distantes da sua realidade particular. Inclusive, este blogpost – apesar de ser informativo – é um dos gêneros que você pode explorar nessa jornada.

Mas não se esqueça de que, mesmo atento a diferentes aspectos, é importante encarar a leitura como uma atividade prazerosa. Assim, você aprenderá de maneira consciente e inconsciente, ao mesmo tempo em que se diverte com distintos enredos e personagens.

Porque se tem algo que a literatura é capaz de fazer é divertir o leitor com finais inusitados e personagens de índole duvidosa. Então, aproveite: ficção científica, romance policial, fantasia, suspense, terror, não importa. O que vale mesmo é o aperfeiçoamento e a facilitação da escrita de publicidade – tema deste artigo.

Clássica ou contemporânea, toda história é recheada de palavras. Curta ou extensa, toda narrativa estimula a criatividade. No vernáculo de 1800 ou de 2024, sempre é possível adquirir algum aprendizado gramatical. Brasileiro ou estrangeiro, todo texto é um objeto de lazer e aprendizado. Basta você saber aproveitar.

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Kaká Bonfante é graduanda em Letras - Língua Portuguesa, técnica em Comunicação Visual e pesquisadora na área de linguagens. Atuando como redatora criativa e revisora ortográfica na Empória Branding, desenvolve peças, campanhas e posicionamentos de marca, tendo como foco a expansão e expressão precisa da identidade verbal das organizações.

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